"Mas na metrópole há cerejas. Cerejas grandes e luzidias que as raparigas põem nas orelhas a fazer de brincos. Raparigas bonitas como só as da metrópole podem ser. As raparigas daqui não sabem como são as cerejas, dizem que são como as pitangas. Ainda que sejam. nunca as vi com brincos de pitangas a rirem-se umas com as outras como as raparigas da metrópole fazem nas fotografias."
(pág.7)
Assim começa "O Retorno" de Maria Dulce Cardoso.
Ontem terminei este livro antes de ir jantar e partilho agora com vocês a minha opinião. Já tinha a ideia de fazer algo mais longo, mas também porque numa publicação em que partilhei as leituras de Abril, várias pessoas disseram que tinham lido e gostado, assim como outras tinham curiosidade ou iam mesmo ler. O livro faz parte de dois projectos a decorrer no Booktube neste mês. São o #lusiteratura da @pdrodrigues e o #abrilhistórico da @amiudageek .
Gostei bastante do livro, tendo-lhe dado 5* no Goodreads, sendo o primeiro livro que leio de Maria Dulce Cardoso.
Como muitos saberão, é sobre o regresso à metrópole de cerca de 500 000 portugueses , quando se dá o 25 de Abril de 1974 e a descolonização (e posteriormente dá-se a independência das antigas colónias). Passa-se em Luanda já quando se ouvem tiros, depois de já ter começado a "debandada" de muitos portugueses - os vizinhos, os amigos, os professores já partiram -, mas ainda antes dos protagonistas da história voltarem. A história é-nos contada pelo Rui, que é um dos filhos adolescentes que em conjunto com a mãe e a irmã vão para Portugal.
O pai e marido fica ainda "a tratar de uns assuntos".
Cada retornado tem direito a uma mala e a levar 5000 escudos.
(Um aparte não tão aparte assim é a capa do livro, que embora eu não tivesse visto logo, trata-se dumas malas, mas esta edição que é da biblioteca tem aquela pelicula transparente colada e nao se vê bem.)
"Então a metrópole é isto." (pág.65)
Todo o livro nos é narrado pelo Rui - interessante a escolha de um adolescente para o fazer - e é ele que vai contar como é que vai ser a adaptação dele, da mãe e da irmã a uma nova vida (o que aconteceu ao pai saber-se-á mais tarde). As personagens estão muito bem construídas - o Rui, a irmã, a mãe, o pai -. assim como o tio Zé, a dona do hotel para onde eles vão, ao amigos do Rui e os outros retornados que também se encontram no hotel. Em todo o livro eu senti-me quase como parte integrante da história, parecendo que estou a vive-la, mesmo com as devidas distâncias.
Tinha uma ideia do que tinha sido o regresso dos retornados, que infelizmente ainda é um assunto muito pouco falado entre nós portugueses, sejamos mais ou menos jovens. Existiam coisas que eu sabia, fiquei com uma ideia clara desta parte da nossa história, a meu ver, ainda não resolvida.
Os preconceitos que existiam (existem?) estão bem presentes no livro, o facto da descolonização não ter sido uma mar de rosas como por vezes parece também está presente, a parte politica também.
Dois pormenores que gostei e deixo por aqui: uma expressão referidas várias vezes "vai dar maca" e algo também algumas vezes repetido "o pó azul que (a mãe) põe nos olhos".
Não me vou alongar mais. mas super recomendo o livro. para quem pense que nãos abe muita coisa da nossa história como foi o meu caso, assim como para os que tiveram alguma familiar ou queiram saber um pouco mais.
Jã tinha na minha lista este livro há algum tempo e vou querer ler mais livros da escritora. Sem dúvida. Muito boa leitura.
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